quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O I Ching e o amor

Como driblar a carência, escolher bem o parceiro e transformar a paixão num relacionamento duradouro? O tratado de sabedoria chinesa aponta os caminhos.
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Não há nada mais complexo do que uma mulher apaixonada. A literatura e o cinema já retrataram essa personagem milhões de vezes, mas o mistério daquilo que faz um amor nascer e ser ou não correspondido perdura - para nossa alegria ou desespero.Como se vê, não estamos num terreno de certezas e é exatamente por isso que o I CHING - O LIVRO DAS MUTAÇÕES (ED. PENSAMENTO) pode ajudar. Ele não nos ilude nem consola com certezas artificiais, preferindo mapear a topografia amorosa para nos indicar atalhos entre lagos e montanhas. Usando metáforas intrigantes, ensina como sobreviver em meio às tempestades da paixão. Com cerca de 3 mil anos de idade, esse clássico da sabedoria chinesa foi escrito, ao longo de séculos, por quatro sábios, entre eles o famoso filósofo Confúcio. O tratado apresenta 64 hexagramas (desenhos com seis linhas que representam tendências de movimento) e aborda temas como afeto, disputa, medo, dúvidas... enfim, a delicada dança de aproximação dos enamorados. Embora indique as melhores circunstâncias para mergulhar numa relação - ou desistir dela -, ele em nada se parece com manuais simplistas de autoajuda, é bem mais complexo e jamais deve ser tomado ao pé da letra. Por exemplo, a frase: "Roupa de baixo amarela traz suprema boa fortuna" não significa que você deve comprar uma nova lingerie para melhorar o seu casamento. O amarelo - diz o I CHING - sinaliza o que é autêntico, digno de confiança. Já roupa de baixo é o símbolo aristocrático do recato. Portanto, o sucesso dependerá da sua sinceridade e discrição e não do figurino que você usará na intimidade.
Segundo Roberto Otsu, estudioso do taoísmo e autor de A SABEDORIA DA NATUREZA (ED. ÁGORA), o I CHING despreza as artimanhas de sedução. "Conquistar tem a ver com possuir e dominar. Isso transforma o outro em objeto, o que significa que, mais dia menos dia, você vai querer mudá-lo de acordo com suas expectativas", diz Otsu. Os sábios acreditam que, quanto maior o esforço para seduzir alguém, pior será o resultado. Mesmo que você consiga fisgar o pretendente, dificilmente essa relação trará harmonia, pois já começou mal, com você fazendo tudo para agradar ao outro, uma estratégia impossível de manter ao longo do tempo. O risco de se desgastar e exagerar nas cobranças, atrapalhando o romance, é grande. Na visão oriental, o que faz a relação fluir não é o esforço, mas a atração, a afinidade e o afeto genuíno - somados ao momento oportuno. Claro que, no início, a beleza feminina pode exercer algum fascínio, mas os mestres acham que ela não é fundamental nem suficiente para sustentar uma ligação realmente duradoura. No fundo, o que conta é a segurança interna e o refinamento espiritual, pois aí, sim, você terá o que oferecer, potencializando a capacidade de dar amor em vez de pedir. O x da questão: como podemos ser mais generosas e menos carentes?
Para responder, o LIVRO DAS MUTAÇÕES se apóia na exuberância da natureza e nos ciclos das estações, estabelecendo conexões entre mundo interno e externo. Para os chineses, ambos são determinados pela mesma dinâmica, baseada em duas forças opostas e complementares: yin e yang. O yin, acolhedor e receptivo, está associado à terra fértil e ao princípio feminino; o yang, impetuoso e criativo, ao céu e ao princípio masculino. O segredo consiste em equilibrar essa dualidade dentro de nós em vez de esperar eternamente que o namorado venha a suprir aquilo que está faltando.
Embora o I CHING aborde vários tipos de relacionamento - incluindo os profissionais, políticos e militares -, alguns capítulos analisam diretamente as ligações amorosas. Por exemplo: os hexagramas "a jovem que se casa", "cortejar", "a família" etc... Confira aqui a síntese das principais lições, selecionadas e interpretadas pelo especialista Roberto Otsu, professor e consultor do oráculo em São Paulo.

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